sábado, 30 de agosto de 2008

Resumos de Obras Literárias

Timba Alunos Elite, está chegando a nossa verificação bimestral, é hora de dar uma revisada nas obras literárias.



1º Ano - Lucíola (José de Alencar)



O AMOR DE LÚCIA E PAULO LUCÍOLA, publicado em 1862, é um romance de amor bem ao sabor do Romantismo, muito embora uma ou outra manifestação do estilo Realista aí se faça presente. Trata-se de um romance de "primeira pessoa", ou seja, o narrador da história é um personagem importante da mesma, Paulo Silva. E ele a narra em cartas dirigidas a uma senhora, G. M. (pseudônimo de Alencar), que as publica em livro com o título de LUCÍOLA. Paulo Silva, o personagem-narrador, é um rapaz de 25 anos, pernambucano, recém-chegado ao Rio de Janeiro, em 1855, com a intenção de aí se estabelecer. No dia mesmo de sua chegada à corte (Rio de Janeiro), após o jantar, sai em companhia de um amigo para conhecer a cidade. Na rua das Mangueiras vê passar em um carro uma jovem muito bela. Um imprevisto faz parar o carro, dando a Paulo a oportunidade de repará-la melhor. Dia após, em companhia de outro amigo, o Dr. Sá, Paulo participa da festa de N. Senhora da Glória, quando lhe aparece a linda moça. Informando-se do amigo, fica sabendo tratar-se de Lúcia, a prostituta mais bela, requintada e disputada da cidade. Mas ele se impressiona com a "expressão cândida do rosto e a graciosa modéstia do gesto, ainda mesmo quando os lábios dessa mulher revelam a cortesã franca e impudente." Mais ou menos um mês após sua chegada, Paulo vai à procura de Lúcia, levado, é claro pelo desejo de possuir aquela linda mulher. Após longa e agradável conversa, acaba se surpreendendo com o "casto e ingênuo perfume que respirava de toda a sua pessoa". A um mínimo lance de seus seios, "ela se enrubesceu como uma menina e fechou o roupão" discretamente. E ele, que fora quente de desejos, agora, na rua, se acha ridículo por não haver ousado mais. Além do que, o Dr. Sá lhe confirmara que "Lúcia é a mais alegre companheira que pode haver para uma noite, ou mesmo alguns dias de extravagância." No dia seguinte Paulo está de volta à casa da heroína. Ao seu primeiro ataque, Lúcia se opõe com duas lágrima nos olhos. Supondo ser fingimento, mostra-se aborrecido e ela reage atirando-se completamente nua em seus braços, já que era isso que Paulo queria. Mas no auge do prazer do sexo, Paulo percebe algo diferente nas carícias de Lúcia: mesmo no clímax do gozo, parece que ela sofria. Sente, na hora, um imenso dó, ao que ela corresponde cinicamente: "- Que importa? Contanto que tenha gozado de minha mocidade! De que serve a velhice às mulheres como eu?" Ele quer pagar-lhe, ela rejeita com um meigo aperto de mão. E ele retira-se realmente confuso com "a singularidade daquela cortesã, que ora levava a impudência até o cinismo, ora esquecia-se do seu papel no simples e modesto recato de uma senhora". E as informações que lhe chegam a seu respeito são as piores. O Cunha diz que ela é "a mais bonita mulher do Rio e também a mais caprichosa e excêntrica. Ninguém a compreende. "Nunca fica muito tempo com o mesmo amante, "pois não admite que ninguém adquira direitos sobre ela." Além do mais, é avarenta. Vende tudo o que ganha. Até roupas. Para Paulo, no entanto, ela parece ser ao contrário de tudo isso. Afinal, ela finge para ele ou já o ama? Paulo fica em dúvida atroz. Po aqueles dias, numa ceia em casa do Sá, com pessoas (Lúcia, Paulo, Sr. Couto, Laura, Nina, Rochinha, etc...) maldosamente convidadas para transformar a ceia em bacanal, Lúcia desfila toda nua, imitando as poses lascivas dos quadros que estavam nas paredes, ante os olhares voluptuosos dos presentes. Depois, em lágrimas, nos jardins da casa, ela se explica a Paulo. Fez aquilo por desespero, pois ele havia zombado dela momentos antes: "se o Senhor não zombasse de mim, não o teria feito por coisa alguma deste mundo..."E depois porque teria sido uma decepção total, afinal o que Sá pretendia era mostrar a seu amigo Paulo quem era Lúcia. "Não foi para isso que se deu essa ceia?! - explicou Lúcia. E os dois se amaram profundamente, lá mesmo no jardim, á luz da lua, até de madrugada. Decorridos alguns dias, Paulo de certo modo passa a morar com Lúcia, e, apesar das prevenções e restrições, mais e mais se liga a ela por afeto. Lúcia, por sua vez, já ama Paulo e se entrega e ele como a um dono e senhor. Há momentos de atritos entre ambos. Passageiros, e todos causados pelo egoísmo e incompreensão de Paulo que não entende as profundas transformações que o seu afeto operou nela. E a tal ponto , que ela não suportaria mais a idéia de se lhe entregar na cama, pois sente por ele um amor muito puro e profundo. E ele, levado mais por desejo que por afeto, não consegue aceitar esse comportamento sublime. As más línguas já comentam que Paulo, além de viver à custa de Lúcia, ainda a proíbe de freqüentar a sociedade. Lúcia que já então procurava viver mais retraída dispõe-se a voltar à vida mundana apenas para salvar-lhe a reputação. Mas Paulo - complicado, sádico, estúpido e chato - não compreende. Lúcia já não vibra como outrora. Mesmo quando excitada por Paulo. É a doença que já se faz sentir. Paulo não entende essa frieza e por vezes se exaspera. Ela sofre calada pois reconhece que "o amor para uma mulher como eu seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe!". O grande sentimento que os unia, arrefece, dando lugar a uma amizade simplesmente. O comportamento de Lúcia é cada vez mais sublime e heróico. Já não existe mais nada da antiga cortesã. E Paulo, por fim, entende essa nobreza de caráter e compreende o porquê das suas recusas. Ela lhe recusava o corpo porque o amava em espírito. E também porque já está doente. Paulo promete respeitá-la de ora em diante. Lúcia um dia lhe revela todo o seu passado. Chamava-se Maria da Glória. Era uma menina feliz de 14 anos e morava com os pais, quando, em 1850, sobreveio a terrível febre amarela. Seus pais, os três irmãos, uma tia caíram de cama, Ela ficou só. No auge do desespero, resolveu pedir ajuda a um vizinho rico, Sr. Couto, que em troca de algumas moedas de ouro tirou-lhe a inocência. "o dinheiro ganho com a minha vergonha salvou a vida de meu pai e trouxe-nos um raio de esperança." Seu pai, porém, sabendo da origem do dinheiro, e supondo ter a filha um amante, a expulsou de casa. Sozinha, sem ter aonde ir, foi acolhida por uma mulher, Jesuína, que, quinze dias depois, à conduziu à prostituição, estipulando pela beleza de seu corpo um alto preço. O dinheiro, ela o usava para cuidar do que restava da família: "e eu tive o supremo alívio de comprar com a minha desgraça a vida de meus pais e de minha irmã". Uma colega de infortúnio foi morar com ela. Chamava-se Lúcia. Tornaram-se amigas. Lúcia morreu pouco depois. No atestado de óbito, a heroína fez constar que a falecida se chamava Maria da Glória, adotando para si o nome da amiga morta. "Morri pois para o mundo e para minha família. Meus pais choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída." E todo dinheiro que ganhava, destinava-o à preparação de um dote para sua irmã, Ana, a qual passou a manter num colégio interno depois da morte dos pais. Agora Paulo compreende ainda melhor as atitudes misteriosas e contraditórias que Lúcia tomava como cortesã. É que esse gênero de vida lhe parecia sórdido e abjeto. Ela suportava como a um martírio, uma autopunição, uma maneira de reparar o seu pecado. Conhecido se passado heróico, ele passa a sentir por Lúcia uma grande ternura e um amor sincero. Seguem-se dias tranqüilos. Lúcia muda-se para uma casinha modesta e Ana mora com ela. "isto não pode durar muito! É impossível!" É o pressentimento da morte. Lúcia tenta convencer Paulo a se casar com Ana, que já o ama também. Seria uma maneira de perpetuar o amor de ambos, já que ela se julga indigna do puro amor conjugal. Paulo rejeita com veemência em nome do amor que não sente por Ana. Lúcia aborta o filho que esperava de Paulo. Ela se recusa a tomar remédio para expelir o feto morto, dizendo "Sua mãe lhe servirá de túmulo". E já no leito de morte, recebe o juramento de Paulo prometendo-lhe cuidar de Ana como sua filha. E morre docemente nos braços de seu amado, indo amá-lo por toda a eternidade.

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2º ANO - O CORTIÇO (ALUISIO AZEVEDO)


Um homem qualquer, trabalhador e muito economizador adquire fortuna, amiga-se a uma negra de um cego e sente cada vez mais sede de riqueza. Arranja confusões com um novo vizinho(Miranda) ao disputar palmos de terra. Chega a roubar para construir o que tanto almejava: um cortiço com casinhas e tinas para lavadeiras. Prosperou em seu projeto. João invejava seu vizinho. Veio morar na casa de Miranda, Henrique, acadêmico de medicina, a fim de terminar os estudos. Nessa casa, além de escravos e sua família morava um senhor parasita (Botelho, ex-empregado). D. Estela (esposa de Miranda) andava se "escovando" com o Henrique, porém acabaram sendo flagrados pelo velho Botelho. O cotidiano da vida no cortiço ia de acordo com a rotina e a realidade de seus moradores, onde lavadeiras eram o tipo mais comum. Jerônimo (português, alto, 35 a 40 anos), foi conversar com João oferecendo-lhe serviços para a sua pedreira. Com custo, depois de prosearem bastante, João aceitou a proposta, com a condição dele morar no cortiço e comprar em sua venda. A mudança de Jerônimo e Piedade se sucedeu sob comentários e cochichos das lavadeiras. Após alguns meses eles foram conquistando a total confiança de todos, por serem sinceros , sérios e respeitáveis. Tinham vida simples e sua filhinha estudava num internato. No domingo todos vestem a melhor roupa e se reúnem para jantar, dançar, festejar, tudo muito a vontade. Depois de três meses Rita Baiana volta. Nessas reuniões sobressaia o "Choro", muito bem representado pela Baiana e seu amante Firmo. Toda aquela agilidade na dança deixara Jerônimo admirado ao ponto de perder a noite em claro pensando na mulata. Pombinha tirava esses dias para escrever cartas. Henrique entretia-se a olhar Leocádia, que em troca de um coelho satisfez sua vontade física(transa), quando foram pegos por Bruno(seu marido), que bateu na mesma e despejou-a de sua casa depois de fazer um baita escândalo. Jerônimo mudou seus costumes, brigava com sua e a cada dia mais se afeiçoava pela mulata Rita. Firmo sentia-se enciumado. Florinda engravidou de Domingos (caixeiro da venda de João Romão), o mesmo foi obrigado a casar-se ou fornecer dotes. Foi aquele rebuliço em todo cortiço, nada mais falavam além disso, Florinda viu-se obrigada a fugir de casa. Léonie(prostituta alto nível) aparece emperiquitada com sua afilhada Juju, todos admiravam quanta riqueza, mas nem por isso deixaram sua amizade de lado. Léonie era muito amiga de Pombinha. Na casa de Miranda era uma festa só! Ele havia sido agraciado com o título de Barão do Freixal pelo governo português. João indagava-se, por não ter desfrutado os prazeres da vida, ficando só a economizar. Diante de tal injúria, com muito mau humor implicava com tudo e todos do cortiço. Fez despejar na rua todos os pertences de Marciana. Acusou-a de vagabunda, acabando ela na cadeia. A festa do Miranda esquentava e João recebeu convite para ir lá, o que o deixou ainda mais injuriado. O forró no cortiço começou, porém briga feia se travou entre Jerônimo e Firmo. Barricada impedia a polícia entrar, o incêndio no 12 fez subir grande desespero, era um corre-corre, polícia, acidentados (Jerônimo levou uma navalhada) e para finalizar caiu uma baita chuva. João foi chamado a depor, muitos do cortiço o seguiram até a delegacia, como em mutirão. Rita incansavelmente cuidava do enfermo Jerônimo dia e noite. No cortiço nada se dizia a respeito dos culpados e vítimas. Piedade não se agüentava chorando muito descontente e desesperada por seu marido acidentado. Firmo não mais entrava por lá, ameaçado por João Romão de ser entregue a polícia. Pombinha amanheceu indisposta decorrente da visita feita no dia anterior à Léonie. Esta, como era de seu costume, atrancou Pombinha em beijos e afagos, pois era além de prostituta, lésbica. Isso deixara a menina traumatizada, que por força e insistência de sua mãe, saiu a dar voltas atrás do cortiço, onde cochilou, sonhou e ao acordar virou mulher. A festa se fez por D. Isabel, ao saber de tão esperada notícia. Estava Pombinha a preparar seu enxoval quando Bruno chegou e lhe pediu que escrevesse uma carta a Leocádia. Ele chorava... Ela, ao ver a reação de submissão dele, desfrutava sua nova sensação de posse do domínio feminino. Imaginava furtivamente a vida de todos, pois sua escrivania servia de confessionário. Via em seu viver que tudo aquilo continuaria, pois não haviam homens dignos que merecessem seu amor e respeito. Pombinha, mesmo incerta, casa-se com o Costa, foi grande a comoção no cortiço. Surgiu um novo cortiço ali perto, o "Cabeça de Gato". A rivalidade com o cortiço de João Romão foi criada. Firmo hospedou-se lá, tendo ainda mais motivos contra Jerônimo. João, satisfeito com sua segurança sobre os hóspedes, investia agora em seu visual e cultura, com roupas, danças, leituras e uma amizade com Miranda e o velho Botelho. Ele e o velho estavam tramando coisa com a filha do Barão. Fez-se um jantar no qual João foi todo emperiquitado. João naquele momento de auge em sua vida, via-se numa situação em que necessitava livrar-se da negra, chegou a pensar em sua morte. Sem nem mesmo repousar após sua alta do hospital, Jerônimo foi conversar com Zé Carlos e Pataca a respeito do extermínio do Firmo. O dia corria, João proseava com Zulmira na janela da casa de Miranda, sentindo- se familiarizado. Jerônimo foi realizar seu plano encontrando-se com os outros dois no Garnisé (bar em frente ao cemitério). Pataca entrou no bar, encontrou por acaso com Florinda, que se ajeitara na vida e dera-lhe notícia que sua mãe parara num hospício. Firmo aparece e Pataca o faz sair até a praia com pretexto de Rita estar lá. Muito chapado seguiu-o. Lá os três treteiros espancaram-lhe e lançaram-lhe ao mar. Chovia muito e ao ir para casa, Jerônimo desiste e se dirige à casa da Rita. O encontro foi efervescente por ambas as partes. Tudo estava resolvido, fugiriam no dia seguinte. Piedade, ao passar das horas, mais desesperada ficava. Ao amanhecer do dia chorava aos prantos e no cortiço nada mais se ouvia senão comentários sobre o sumiço do Jerônimo. A morte de Firmo já rolava solta no cortiço. Rita encontrava-se com Jerônimo. Ele, sonhando começar vida nova, escreve logo ao vendeiro despedindo-se do emprego, e à mulher constando-lhe do acontecido e prometendo-lhe somente pagar o colégio da garota. Piedade e Rita se atracaram no momento em que a mulata saía de mudança, o cortiço todo e mais pessoas que surgiram, entraram na briga. Foi um tremendo alvoroço, acabara sendo uma disputa nacional (Portugueses x Brasileiros). Nem a polícia teve coragem de entrar sem reforço. Os Cabeças de Gato também entraram na briga. Travou-se a guerra, a luta dos capoeiristas rivais aumentava progressivamente quando o incêndio no 88 desatou, ensangüentando o ar. A causa foi a mesma anterior, por um desejo maquiavélico, a velha considerada bruxa incendiou sua casa, onde morreu queimada e soterrada, rindo ébria de satisfação. Com todo alvoroço, surgia água de todos os lados e só se pôs fim na situação quando os bombeiros, vistos como heróis, chegaram. O velho Libório (mendigo hospedado num canto do cortiço) ia fugindo em meio a confusão, mas João o seguiu. Estava o velho com oito garrafas cheias de notas de vários valores, essas que João roubou e fugiu, deixando-o arder em brasas. Morrera naquele incêndio a Bruxa, o Libório e a filhinha da Augusta além de muitos feridos. Para João o incêndio era visto como lucro, pois o cortiço estava no seguro, fazendo ele planos de expansão baseado no dinheiro do velho mendigo. Por conseqüências do incêndio Bruno foi parar no hospital, onde Leocádia foi visitá-lo ocorrendo assim a reconciliação de ambos. As reformas expandiram-se até o armazém e as mudanças no estilo de João também alcançavam um nível social cada vez mais alto. Com amizade fortificada junto ao Miranda e sua família, pediu a mão de Zulmira em casamento. Bertoleza, arrasada e acabada daquela vida, esperava dele somente abrigo em sua velhice, nada mais. Jerônimo abrasileirou-se de vez. Com todos costumes baianos deleitava-se a viver feliz com a mulata Rita. Piedade desolada de tristeza habituara-se a beber e começou a receber visitas aos domingos de sua filhinha (9 anos), que logo cativou todo o cortiço, crismada por todos como "Senhorinha". Acabados por desgraças da vida, Jerônimo e Piedade não mais guardavam rancor um do outro, ambos se estimavam e em comum possuíam somente a filha a cuidar. Jerônimo arrependia-se , mas não voltaria atrás. Deu-se a beber também. O cortiço não parecia mais o mesmo, agora calçado, iluminado e arrumado todo por igual. O sobrado do vendeiro também não ficara para trás nas reformas. Quem se destacou foi Albino (lavadeiro homossexual) com a arrumação de sua casa. A vida transcorria, novos moradores chegavam. Já não se lia sob a luz vermelha na porta do cortiço "Estalagem de São Romão", mas sim "Avenida São Romão". Já não se fazia o "Choradinho" e a "Cana-verde", a moda agora era o forrobodó em casa, e justo num desses em casa de das Dores, Piedade enchera a cara e Pataca é que lhe fizera companhia querendo agarrá-la depois de ouvir seus lamentos, mas a caninha surtiu efeito (vômito) e nada se sucedeu. João Romão não pregara os olhos a pensar no que fazer para dar um fim na crioula Bertoleza. Agostinho (filho da Augusta) sofrera acidente na pedreira, ficara totalmente estraçalhado. Foi aquele desespero no cortiço. Botelho foi falar a João logo cedo. Bertoleza ao ouvir, pôs-se respeito diante da situação e exigiu seus direitos, discutiram o assunto e nada resolveram. João se irritara e tivera a idéia de mandá-la de volta ao dono propondo esse serviço ao velho Botelho, que aliás recebia dele remuneração por tudo que lhe prestava. Em volta do desassossego e mau estar de João e Bertoleza o armazém prosperava de vento em poupa aumentando o nível dos clientes e das mercadorias. Sua Avenida agora era freqüentada por gente de porte mais fino como alfaiates, operários, artistas, etc. Florinda ainda de luto por sua mãe Marciana, estava envolvida agora com um despachante. A Machona (Augusta) quebrara o gênio depois da morte de Agostinho. Neném arrumara pretendente. Alexandre fora promovido à sargento. Pombinha juntara-se à Léonie e atirara-se ao mundo. De tanto desgosto, D. Isabel (mãe de Pombinha) morrera em uma casa de saúde. Piedade recebia ajuda da Pombinha para sobreviver, pois estimava Senhorinha, apesar de saber que o fim da pobre garotinha seria como o seu. Mesmo assim Piedade foi despejada indo refugiar-se no Cabeça de Gato, que tornara-se claramente um verdadeiro cortiço fluminense. Ocorreu um encontro em uma confeitaria na Rua do Ouvidor, entre a família do Miranda, o Botelho e o João Romão que puseram-se a prosear. Na volta, seguindo em direção ao Largo São Francisco, João e Botelho optaram em ficar na cidade a conversar sobre o fim que se daria a crioula. Estava tudo certo, seu dono iria buscá-la junto á polícia. Quando isso sucedeu-se, ao ver-se sem saída, impetuosa a fugir, com a mesma faca que descamava e limpava peixes para o João, Bertoleza rasgou seu ventre fora a fora. Naquele mesmo instante João Romão recebera um diploma de sócio benemérito da comissão abolicionista.

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3º ANO - SÃO BERNARDO (GRACILIANO RAMOS)





A obra "São Bernardo" de Graciliano Ramos gira em torno da figura de Paulo Honório, um homem dinâmico, empreendedor, dominador, obstinado, com objetivos definidos e que, para alcançá-los, usa os outros personagens.
Logo no início da obra, devido à quantidade concentrada de informações, o leitor parece ser "empurrado" para dentro de um turbilhão: são nomes, ocupações, aptidões, características de personagens, função que cada um deles cumpriria na realização do projeto, nomes de lugares ou coisas (O Cruzeiro, A Gazeta, São Bernardo), paisagens quebradas (uma estrada, um pasto...). Tudo isso forma um "todo significativo" e o leitor se vê em um mundo que desconhece. Ele, o leitor, só tem uma voz narrativa em primeira pessoa que o guia.
O fator "posse" surge logo nas primeiras linhas do romance, pois o narrador personagem, que não se identifica inicialmente, diz que quer escrever um livro de memórias e pôr o seu nome na capa. Embora, inicialmente, imaginasse "construí-lo pela divisão do trabalho".
"Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquirnedes a composição tipográfica; para composição literária convidei Lúcio Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o meu nome na capa."
Eufórico, o narrador diz que já vê os "volumes expostos, um milheiro vendido". Essa euforia inicial se transforma em fracasso poucas linhas depois, quando o narrador anuncia de maneira brusca e sem lamúrias que "o otimismo levou água na fervura, compreendi que não nos entendíamos".
O leitor não precisa esperar muito para descobrir o motivo do fracasso: "João nogueira queria o romance em língua de Camões" e Padre Silvestre que "Depois da revolução de outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu-me a cara."
Agora resta ao narrador apenas a companhia de Azevedo Gondim, redator e editor do periódico "O Cruzeiro", que agora passa a ser caracterizado como "uma espécie de folha de papel destinada a receber as idéias confusas" que fervilham na cabeça do narrador.
O Projeto então é reiniciado, mas logo em seguida, novamente de maneira brusca, o narrador anuncia um novo fracasso: os dois capítulos que Gondim havia escrito estavam "tão cheios de besteiras" que o narrador se zanga e, com uma linguagem brutal, ataca o redator do Cruzeiro.
Gondim tenta se justificar dizendo a seu Paulo (somente agora sabemos o nome do narrador) que "um artista não pode escrever como fala". Paulo parece conformar-se e admite o novo fracasso.
Nota: O impressionante em Graciliano Ramos é o seu poder de síntese, pois tudo isso que foi escrito até agora representa apenas um capítulo com apenas duas páginas e meia. Logo no início do segundo capítulo, Paulo, após ouvir o "pio da coruja" decide recomeçar a composição do livro valendo-se "dos seus próprios recursos" e sem indagar se isto lhe traria "vantagem, direta ou indireta."
Paulo revela ao leitor que quer contar a sua história, mas interrompe várias vezes a composição da obra e reconhece que "se tivesse a metade da instrução de Madalena, encoirava isto brincando" e que aquela "papelada" tinha préstimo.
Paulo confessa ainda que o seu objetivo na vida "foi apossar-se das terras de S. Bernardo". Logo em seguida, revela-se incapaz perante a língua/literatura e pede ao leitor a "bondade de traduzir isto em linguagem literária", pois não pretende "bancar o escritor". Ao findar desse capítulo, Paulo, impacientando-se diz: "Dois capítulos perdidos. Talvez não fosse mau aproveitar os do Gondim, depois de expurgados".Apesar de o narrador afirmar que os dois capítulos iniciais foram "perdidos", isso não é a verdade da obra, pois nesses dois capítulos iniciais temos uma quantidade "concentrada" de informação que servem de base para o desenrolar da história. Além disso, o perfil empreendedor e dominador de Paulo está formado.
No terceiro capítulo Paulo Honório se descreve, só agora sabemos o seu nome completo, e começa a contar a sua história:
Paulo Honório, por ter sido abandonado pelos pais, é criado por Margarida, uma negra que fazia doces. Aos dezoito anos tem a sua primeira experiência sexual e, em decorrência dela, esfaqueia João Fagundes, pois ele se "engraçou" com Germana, a mulher que possuíra. Devido a esse ato de violência, ficou preso "nove meses e quinze dias". Depois da prisão, só pensava em "ganhar dinheiro". Para isso, contraiu um empréstimo com o Pereira (agiota) e, por acreditar que foi roubado, estudou aritmética. Paulo Honório trabalhou na enxada em vários lugares, dentre eles, na fazenda de São Bernardo. Por sofrer muito nesse lugar, depois se vingou do Pereira: "hipotecou-me a propriedade e tome-lhe tudo, deixei-o de tanga. Mas isso foi muito mais tarde". Paulo descreve que, para atingir o se intento, começou a negociar gado, redes, imagens, rosários etc. Nesse período sofreu privações (sede e fome) e fazia negócios com a "arma em punho". Depois de acumular um certo capital, volta ao município de Viçosa, Alagoas, e traça os seus planos para adquirir a fazenda São Bernardo, onde trabalhara no passado para Salustiano Padilha, um homem que tinha "levado uma vida de economias indecentes para fazer o filho doutor" e acabou morrendo sem ver o filho formado. Paulo Honório, como quem não quer nada, aproxima-se de Luís Padilha - filho do falecido patrão de Paulo, que é beberrão, mulherengo e incompetente. Paulo empresta-lhe dinheiro e lhe dá maus conselhos sobre o cultivo de São Bernardo, auxilia-o financeiramente em investimentos a serem feitos em São Bernardo e faz com que o Padilha lhe hipoteque a fazenda. Como a dívida não foi paga, Paulo Honório ameaça Padilha e, esse, arruinado, vendê-lhe a propriedade por uma quantia muito pequena. Já com a posse da fazenda, Paulo Honório, apesar de enfrentar várias dificuldades, começa a reconstruir São Bernardo. A primeira delas e o fato de Mendonça, dono do sítio vizinho, ter "avançado" a cerca que divide as duas propriedades para dentro de São Bernardo. Os dois travam uma espécie de "guerra fria" que termina quando o Mendonça leva um tiro "na costela mindinha" e acaba falecendo. Na hora do crime, Paulo Honório estava na companhia de Padre Silvestre, fato esse que afastou qualquer tipo suspeita de ligação com o crime. "Na hora do crime eu estava na cidade, conversando com o vigário a respeito da igreja que pretendia levantar em S. Bernardo. Para o futuro, se os negócios corressem bem".
Depois da morte do Mendonça, Paulo Honório derruba a cerca e leva-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano Padilha. A viúva do Mendonça reclama, e Paulo Honório diz a ela para levar o caso a justiça, como isso era caro e daria muito trabalho, a cerca ficou como estava. Paulo Honório invade também as terras do Fidelis, que era paralítico de um braço e também a dos Gama, que mudaram-se para o recife. Com muita determinação, Paulo Honório começa a investir em São Bernardo: fez empréstimos nos bancos, importou equipamentos agrícolas, iniciou a pomicultura e avicultura, e construiu uma estrada de rodagem para facilitar o transporte dos seus produtos para a cidade.
Certo dia, Paulo Honório recebeu a visita do Governador, que elogiou muito o trabalho desenvolvido em São Bernardo. Ao ser questionado sobre a escola, Paulo Honório disse que não tinha, mas ao perceber que poderia tirar algum proveito, disse ao Governador que em sua próxima visita a escola estaria concluída. Para montar a escola, Paulo Honório convida o Padilha, que aceita o convite após uma certa relutância. Nessa época, a velha Margarida, com quem Paulo Honório viveu na infância foi encontrada e veio viver com ele na fazenda.
Paulo Honório resolve casar-se, não por solidão, mas pela necessidade de ter um herdeiro. Paulo começa a procurar uma mulher, como se procurasse um objeto em um mercado. Ele Idealiza uma mulher morena, perto dos trinta anos, e a mais perto da sua vontade é Marcela, filha do juiz. Nessa época conhece Madalena, a professora da vila, e interessa-se por ela. Paulo Honório mostra-lhe as vantagens do negócio do "casamento" e, com a mesma força e determinação que conquistou São Bernardo, convence a moça a se casar com ele. Madalena, em companhia de sua tia Glória, muda-se para São Bernardo. Lodo após o casamento, Paulo Honório começa a "descobrir" Madalena: a moça, "esclarecida" e dotada de espírito humanitário, interessa-se pela vida em São Bernardo e, por não concordar com a forma exploratória que o marido trata os empregados, acaba se intrometendo em alguns assuntos, como por exemplo, as "privações" que a família de mestre Caetano vinha sofrendo. Logo em seguida, seu Ribeiro, que era o Guarda Livros da fazenda, declara que Madalena entende de escrituração e que poderia ajudá-lo no trabalho e depois, quando ele morresse, encarregar-se dos livros. Madalena acha pouco o salário de 200 mil réis que receberia pelo trabalho e o casal, com apenas oito dias de casamento, tem sua primeira briga. As brigas entre o casal tornam-se cada vez mais freqüentes, isso porque o espírito humanitário de Madalena é totalmente incompatível com Paulo Honório.
Com o passar do tempo, Madalena se transforma na única pessoa que Paulo Honório não consegue transformar em "objeto". Com idéias socialistas, Madalena representa um obstáculo na dominação Paulo Honório, que começa a perder a sua força e o seu controle sobre as coisas. Essa perda é exemplificada simbolicamente no capítulo 23 com um "volante empenado e um dínamo que emperrava", ou seja, perda de controle e de força.
Por não conseguir possuir Madalena da mesma forma que possuía todas as coisas e pessoas, Paulo Honório passa a sentir um ciúme doentio e começa a desconfiar do Padilha, do João Nogueira, do Gondim e de todos os homens que freqüentavam a fazenda, inclusive os empregados. O casal tem um filho, mas isso não faz com que a situação se altere. Paulo Honório não sente nada pela sua criança, e irrita-se com seus choros. A vida angustiada e o ciúme exagerado de Paulo Honório levam Madalena ao suicídio. Após a morte da esposa, Paulo Honório vai perdendo as outras pessoas - D. Glória vai embora e o seu Ribeiro demite-se.
Logo em seguida, rebenta a Revolução de 30 que traz conseqüências desastrosas para os negócios da fazenda (vários fregueses quebraram e Paulo Honório é obrigado a encerrar as atividades de avicultura, horticultura e pomicultura). Como os negócios iam mal, Paulo Honório, acometido por imenso vazio depois da morte da esposa, simplesmente cruzou os braços.
"Um dia em que, assim de braços cruzados, contemplava melancolicamente o descaroçador e a serraria, João Nogueira me trouxe a notícia de que o Fidélis e os Gama iam remexer as questões dos limites (...). Encolhi os ombros desanimado. João Nogueira desanimou também. Paciência"
Sozinho, Paulo Honório se isola e começa a escrever a sua história de vida. Ele tenta com isso encontrar o sentido de sua vida. Só aí percebe a sua monstruosidade, pois destruiu não só a sua vida, mas também a vida de todos que estavam ao seu redor. Ele percebe também que está totalmente derrotado e o quanto é impotente, pois não tem forças para se mexer e tentar mudar o rumo que sua vida tomou.
"E eu vou ficar aqui, às escuras, até não sei que hora, até que, morto de fadiga, encoste a cabeça e descanse uns minutos".



Um comentário:

Anônimo disse...

Que resumãao;
:P
Foi o senhor mesmo qm fez?(se não gostar do termo "senhor", desculpe.É o costume...e aqui em casa, se eu não falar assim com os 'superiores' é cascudo...¬¬)

Bjos